Mortalha de papel: as (re)leituras do passado ruandês em Nossa Senhora do Nilo (2017), de Scholastique Mukasonga

Caroline Peres Martins

Resumo
Esta comunicação propõe a análise da narrativa de teor testemunhal Nossa Senhora do Nilo (2017), da escritora africana Scholastique Mukasonga, que se torna uma espécie de porta-voz de seu grupo populacional – reconhecido como Tutsi – ao recorrer à literatura para testemunhar as barbáries do “real”, a fim de preencher as lacunas deixadas pela história e, ainda, para evitar o apagamento completo de seu povo. Assim, objetivou-se verificar como a autora cumpre com seu dever de memória ao permitir que os excluídos ganhem voz, por meio de suas personagens, empregando elementos ficcionais que visam dar conta do inarrável. Ao dar voz para suas personagens, Mukasonga também desvela as tensões entre as identidades políticas de seu país, constatadas desde o processo colonial, que se acentuaram a ponto de culminar em genocídio: em apenas um trimestre, mais de 800.000 pessoas foram mortas. Para sustentar as reflexões acerca da obra previu-se a pesquisa investigativa, de cunho bibliográfico, pautada em autores que discutem o teor testemunhal na literatura, o trauma, bem como sobre o processo de colonização de Ruanda, por exemplo: Aleida Assamnn; Márcio Seligmann Silva; Mahmood Mamdani; Geoffrey Hartman; Giorgio Agamben; Paul Ricouer e Sigmund Freud. Sendo assim, a partir dos resultados obtidos, torna-se possível afirmar que Scholastique Mukasonga cumpre com seu dever de memória ao construir uma “mortalha de papel” às vítimas que não possuem sequer uma sepultura.

Palavras-chave
Ruanda. Scholastique Mukasonga. Teor testemunhal. Trauma.

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